Páginas

quinta-feira, 17 de maio de 2012

O último discurso


"Sinto muito, mas não pretendo ser um imperador.
Não é esse o meu ofício.
Não pretendo governar ou conquistar quem quer que seja.
Gostaria de ajudar a todos, se possível: judeus, o gentio...negros...brancos.
Todos nós desejamos ajudar uns aos outros.
Os seres humanos são assim.
Desejamos viver na felicidade do próximo, não para o seu infortúnio.
Por que temos que odiar e desprezar uns aos outros?
Neste mundo há espaço para todos.
A terra, que é boa e rica, pode prover todas as nossas necessidades.
O Caminho da vida pode ser o da liberdade e da beleza, porém desviamo-nos dele.
A cobiça envenenou a alma dos homens...levantou no mundo as muralhas do ódio...e tem-nos feito marchar a passo de ganso para a miséria e os morticínios.
Criamos a época da produção veloz, mas nos sentimos enclausurados dentro dela.
A máquina, que produz em grande escala, tem provocado a escassez.
Nossos conhecimentos fizeram-nos céticos, nossa inteligência, emperdenidos e cruéis.
Pensamos em demasia e sentimos bem pouco.
Mais do que máquinas, precisamos de humanidade, mais do que de inteligência, precisamos de de afeição e doçura!
Sem essas virtudes, a vida será de violência e tudo estará perdido.
A aviação e o rádio aproximaram-nos muito mais.
A própria natureza dessa aproximação é um apelo eloqüente à bondade do homem...um apelo à fraternidade universal... à união de todos nós.
Neste mesmo instante, a minha voz chega a milhões de pessoas pelo mundo a fora....
Milhões de desesperados, homens, mulheres, criancinhas...vítimas de um sistema que oprime seres humanos e encarcera inocentes.
Aos que me podem ouvir, eu digo: “ Não desespereis!”
A desgraça que tem caído sobre nós não é mais do que o produto da cobiça em agonia...da amargura de homens que temem o avanço do progresso humano.
Os homens que odeiam desaparecerão, os ditadores sucumbirão e o poder que do povo arrebataram há de retornar ao povo.
E assim, mesmo que morram homens, a liberdade nunca perecerá.
Soldados! Não vos entregueis a esses homens violentos...que vos desprezam...que vos escravizam...que arregimentam as vossas vidas...que ditam vossos atos, as vossas idéias e os vossos sentimentos! Que vos fazem marchar ao mesmo passo, que vos submetem a uma alimentação racionada, que vos tratam como um gado humano e que vos utilizam como carne para canhão! Não sois máquinas.
Homens é que sois!
E com o amor da humanidade em vossa alma! Não odieis.
Só odeiam os que não se fazem amar...os que não se fazem amar e os desumanos.
Soldados! Não batalheis pela escravidão! Lutai pela liberdade!
Lutemos por um mundo novo...um mundo bom, que a todos assegure o ensejo de trabalho, que dê futuro à mocidade e segurança à velhice.
É pela promessa de tais coisas que desalmados têm subido ao poder. Mas só mistificam!
Não cumprem o que prometem. Jamais o cumprirão!
Os ditadores liberam-se, porém escravizam o povo.
Lutemos agora para libertar o mundo, abater as fronteiras nacionais, dar fim à ganância, ao ódio e à prepotência.
Lutemos por um mundo de razão, um mundo em que a ciência e o progresso conduzam à aventura de todos nós. Soldados, em nome da democracia, unamo-nos!
Hannah?! O sol vai rompendo as nuvens, que se dispersam!
Estamos saindo da treva para a luz!
Vamos entrando num mundo novo, um mundo melhor, em que os homens estarão acima da cobiça, do ódio e da violência.
Ergue os olhos, Hannah! A alma do homem ganhou asas e, afinal, começa a voar.
Voa para o arco-íris, para a luz da esperança.
Ergue os olhos, Hannah! Ergue os olhos!"


O Último Discurso
Do filme: O Grande Ditador
Texto e filme de Charles Chaplin

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...